segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O céu é a minha mãe?














O que eu faço dessa manhã sem a minha mãe?
um amigo me disse "feche os olhos que você tocará nela
bem lá dentro do seu centro orgânico,
bem no mais sensível do que tens"

A cigarra canta... minha mãe canta
e eu volto a chorar,
nem mesmo Lô Borges consegue
com sua voz sem tempo conter essa água,
esse desaguar de filho que viu sua mãe voar

O céu é a minha mãe?
A terra?
O fogo?
Os gravetos caído sobre meus cabelos
pelos caprichos da noite,
seriam ela?

Ela sou eu

( edu planchêz)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Tudo que tenho são esses dois efêmeros pés




Tudo que tenho são esses dois efêmeros pés,
essas mãos delicadas, esses olhos curiosos...
Agora mais que nunca resoluto piso o chão do planeta
que racho com os machados da minha vitoriosa arte

A que me gerou partiu para as estrelas...
pronto estou para arrastar multidões
com o poder de minhas palavras,
com a fortaleza de minha voz

Arrancaram-me a força meu coração,
mas outro imediatamente brotou em seu lugar...
de coração novíssimo parto para o estradar,
para derramar ás muitas lágrimas-canções
sobre as pessoas

(edu planchêz)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Minha mãe, você se foi muito cedo








Entreguei, entregamos nossa mãe para a terra...
não sabia até aquele momento que ela era a minha metade...
metade de mim ficou junto com ela naquela cova comum,
simples como sempre ela sempre foi

Minha mãe foi e sempre será uma passarinho,
a pessoa mais doce e pura que conheci nessa vida,
meu nome é lágrimas, não posso ter outro nome nesse momento,
não sei por quantos bilhões de anos ainda hei de chorar,
e o que importa? Qual o sentido de continuar sem ela?

Mas quando estava ali com meus irmão, pai, tios,
filho, mulher e outros parentes
e amigos entregando nossa mãe para a terra,
observei em volta os milhares de túmulos,
e pensei nos muitos que também com a mesma dor que agora sinto
entregaram seus queridos para a mesma terra

Terra, cuide bem de minha mãe,
de todas as outras mães e filhos e pais...
que estão em ti para em ti te tornares
terra também

Mas também sei que minha mãe à esse momento está nos braços
dos sol e da lua, das estrelas encantadas,
dessa e de outras galáxias,
nos braços dos Budhas das dez direções do universo,
no alto Pico da águia,
no centro da Torre do Tesouro

Preciso falar dessa dor... nessa vida não mais à verei...
não ouvirei sua voz...não beijarei mais seu rosto bonito

Quando eu nasci ele tinha 17 anos, uma menina cheia de vida,
lembro de uma foto dela sentada numa cadeira de balanço...
tão bela... cabelos pretos, rosto lindo...

Minha mãe,em nome de que você resolveu não mais amar-se?
Você amava tanto mas não se amava...
em nome de um amor que não lhe era correspondido à altura
que você desejava se entregou ao não mais querer viver...
e seu corpo ficou maior que o planeta,
você preenchia o vazio que havia dentro de ti
com comida

Minha mãe, você se foi muito cedo,
seu filho primevo busca em algum lugar
as respostas que já foram dadas,
não se conforma com o que lhe aconteceu,
com a carga de sofrimentos que você suportou
até a batida final de seu coração bondoso

(edu planchêz)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Sutra de Nitiren e todos os budhas








sentado dentro uma minúscula ostra
passarei essa noite mais que eterna,
se não for o diamante teu, sou a pérola,
a cascata de de peixes vermelhos:
carpas, salmões, olhos de gato, vermelhos gigantes

sou quase tudo e não sou nada,
tal qual Mukuren desço aos infernos para resgatar minha mãe,
mas juro que não tentarei fazer nenhuma mágica,
apenas cantarei o Sutra que iluminou Nitiren
e todos os outros budhas das dez direções do universo

(edu planchêz)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Vivendo o Dragão






Domingo ainda...
chovia com vento, chovia com a força dos relâmpagos...

Abraçado aos relâmpagos mergulho nessa noite quase tudo
e sei que posso voando arrastar as dores dos que sofrem
sobre o lastro da eletricidade mais que viva
e verter essa dor em estrelas

Nem sei se ainda é Domingo, mas há chuva,
centenas de pingos explodindo em minhas narinas,
nos anéis que um dia pertenceram a Males Dives,
na vida de minha mãe

Entro no tempo, saio do tempo,
mergulho no abissal, engulo tudo que há por lá,
volto a superfície, respiro,
e volto a mergulhar

(edu planchêz)

sábado, 4 de dezembro de 2010

MERCADORES DO DELIRIO















os mercadores do delírio portam em suas mãos-patas
espadas de pólvora e chumbo,
são os exterminadores do futuro
que não saberão se esse futuro será claro ou escuro
porque sucumbem sob o delírio
dos soldados exterminadores de ex-futuros valores humanos

"também morre quem atira"

com seus tanques de bosta
transformam tudo em sangue necrozado,
em devastidão, em merda de morte,
em alegria nenhuma

espetáculo esse visto pelos videntes
de broncas novelas
por suas escotilhas domésticas,
por seu visores televisivos gosmentos

a morte é linda,
a bala traçante possue um caralho luminoso
e uma vagina cheia de fumaça amarela ouro
para te foder de traumas eternos,
para que gozes o fim dos pretos
que te importunam com rajadas
de risos de fogo

(edu planchêz)

sábado, 27 de novembro de 2010

nas caldas achocolatadas do palhaço mundo








Todas as minhas vozes
possuem nesse momento como nascedouro
a boca borrada de baton de Elis Regina emergida
nas caldas achocolatadas do palhaço mundo

Sob o giro da ventarola
que arrasta os menino para os beijos sol
meio-dia-meia-noite
de qualquer estação absurda

Falam de meus cinquenta e um anos...
das minhas maluquices, eu às adoro
Sou mais menino que muito menino
e mais velho que muito velho

Venham me seguindo por essa rua sem fim,
em lugar nenhum chegaremos,
porque o chegar é o não chegar

(edu planchêz)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

saia de vento




Penso e trazer-te para a minha saia de vento,
para rodares por fora
e por dentro do turbilhão de astros azulados
caídos da grande árvore
formada por nossas vozes
de cantores de outros mundos

(edu planchêz)

domingo, 13 de junho de 2010

Minha Fada, mãe, irmã e fêmea




( à T B )

Fadas saindo dos vãos dos meus dedos silvestres,
da alegria de estar vivo,
dos gomos do bambúm meu eu
Eu, oriundo do vento
do ventre de minha mãe guerrilheira
e dos ventos pergaminhos das matas e ruas
(que no fundo são os mesmos ventos)

Fadas feitas de biscoito e queijo amarelo
enfeitam a mesa de nosso doce café
comprado com a graninha generosa
que meu valente pai mandou

Choro porque amo tanto
as minhas queridas de alma,
em especial,
a minha amada distante que deve nesse agora
estar à dormir sob as cobertas de perfumes
e o frio do Vale do Paraíba do Sul

Ela é uma Fada de mãos e pés delicados,
minha namorada deliciosa
gosta de montanhas e rios pequenos,
de frutinhas e capim

Fadinhas de mim e de ti,
somos o simples, a gotinha de leite,
colherinha de chocolate...
os olhos de meu filho ainda para mim pequenino,
das tuas filhas lindas de doer

O tempo segue porque ninguém segura o tempo
que cobre de branco nossos corpo trabalhadores
Branco é a cor não cor, o corte,
o intervalo de todas as noites e dias,
os lábios desse dia são os lábios de minha amada,
de minhas queridas( eu não posso mentir)
De que me vale ser poeta mentindo?

Nada escondo das fadas, também sou fada
à penetrar pelas fendas
que existem onde não há fendas

Sou tão pequeno, tão minúsculo,
menor que o menor,
sei que depois que eu passar
nada e ninguém de mim lembrará,
e também qual o sentido de ser lembrado?

O esquecimento mora no arco-íris,
nas linhas azuis do corpo,
nos azuis da tua noite,
da nossa noite, do sono meu e teu
reduzidos a grãos de terra preta

Minha Fada, mãe, irmã
e fêmea

(edu planchêz)

para me encontrar sob as travessas do generoso delta Guaíba




(à Amanda Ruppenthal e Virginia Prux Reginato)



Tu que caminhas nessa seta,
vê as ilhas mais que certas,
abre das margens nevoentas
de teu precioso momento
para me encontrar sob as travessas
do generoso delta Guaíba

Tu que de Mário Quintana
foste leitor e irmão,
segues por puro amor
as nobresas de Caio Fernando
e Érico Veríssimo,
e abres becos e cancelas,
cacheiras rasgas nas serras
das roseiras mais que belas
de Caxias do Sul à Canela

(edu planchêz)

sábado, 12 de junho de 2010

o povo do orvalho



o povo do orvalho
nos chama,
no vale das pequenas flores
nos chama o povo

as crianças do povo
da dança
dos tambores,
mora sob nos troncos das árvores
baobás carvalhos jequetibás

(edu planchêz)

Esse é Rock do fim e do começo do mundo






Esse é Rock do fim e do começo do mundo
agraciado pelo café
que acabei de entornar na minha garganta de condor

A manhã renascida arromba
a tranca que impedia o poeta profeta sacerdote
de entoar as suas preces

Foi uma longa noite, uma jornada que passou pelo choro,
pela morte, pelo fim e pelo começo de tudo
Houve decomposições, cadáveres meus se decantaram
pelas fuligens da noite empestada
de dentes e unhas

Essa foi a minha noite de mutações,
estive nos braços e nos chicotes
dos governantes do Iching,
nas crateras pétreas dos tambores das runas

Precisei largar a mão dos anjos e abraçar o mofo vindo
da côrte das árvores
para na fluidez dos códigos do tempo morno
rever meus olhos e o esquecimento,
a perda da voz e os sonhos

Você dirá "que lindo!",
mas se estivesse nos sulcos das escamas da minha pele
talves optassee pelas abismais janelas do último andar

Agora com alma,
refeito e com o gerador de espermatozóides
mais que em ação,
desfruto os primeiros raios do novíssimo século
por mim esculpido, entalhado...

Eu sou o pintor, o que esculpe as estatuetas
que usarei pelas próximas vidas,
pelos próximos dias e noites

Você não deve estar me entendendo,
mas o dínamo da noite citado por Allen Ginsberg
sabe muito bem a que me refiro

(edu planchêz)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

oceano sem nome





Eu sei,
mas prefiro ainda não olhar
para onde encontro o silêncio...
flutuo num pedaço de madeira
carcomido pela salinidade das águas
do oceano sem nome

estou angustiado, assim estranho...
sem colo... no silencio

é oculto
sem respostas
mutação
sem perguntas
apenas calado

reflexivo
não triste
contemplativo
olhando para a extensão da grande e da pequena vida
sem um porque explicável

mas os beijos...
um dia roubei um beijo
de uma mulher na praia do Flamengo,
foi uma coisa selvagem...
pensei q iria levar um tapa na cara..
mas ela me disse..."esse beijo foi muito curto"
(fiquei assustado)

só me valem o selvagem

estou selvagem,
sem fazer barba há duas semanas,
sem pentear os cabelos,
um bárbaro

você pode não gostar,
mas juro que as mulheres que correm com os lobo,
encontraram atração nesse emaranhado bicho
do dia de hoje

gosto das selvagens
foda-se as aparências/padrões,
gosto das punks, das darks...
sou bruxo

(edu planchêz)

cão caminhando sobre um muro de nuvens







Hoje um pouco triste...
um estado de vida? Sim!
Folha pendida no vento dos campos intocados...
ocaso, lembrança, minha,
de Friedrich W. Nietzsche,
de ninguém, de você que prepara
o alicerce da casa e as camas

Mar sem dono,
cão caminhando sobre um muro de nuvens,
leão de chamas azuis douradas
acesas por esse poema

Choro, o choro de todos,
das aves e seus filhotes,
dos ursos ocultos nas cavernas
de nossas almas metálicas mergulhadas no inverno

Aquele continente de gelo boiando sobre o sal das águas,
sou eu e minha angustia inesplicada e profunda

A tristeza vos confesso, não é de tudo ruim,
para os pequenos poetas(sou um deles),
representa um portal,
uma passagem, um furo nas imagens foscas
que me trazem o rosto do aliado Eriberto Leão
(que até o dia de hoje não me mostrou as prometidas
gravuras de Willian Blake
que me disse possuir)

Hoje um pouco triste...
um estado de vida? Sim!
Folha pendida no vento dos campos intocados...
ocaso, lembrança, minha,
de Friedrich W. Nietzsche,
de ninguém, de você que prepara
o alicerce da casa e as camas

(edu planchêz)

a mais princesa das prendas







escrevendo o que bater na telha, na calha,
nos canos da contra-invenção
Contra tudo e contra nada segue esse burro,
esse jovem senhor,
esse demónio de asas de cristais líquidos,
esse deus que pouco conhece o mundo das formigas

fértil e infértil é o solo das bacantes
que andei capturando com a ajuda das espadas
e dos bambus daquele filme oriental
( em que os espadachins voavam sobre o mar,
sobre a copa das árvores
e sobre as cucas dos que ligam e desligam
a TV antes e depois do sono

e eu que sou muito louco,
e eu que sou hiper lúcido
sei de nada, sei de tudo...
apenas acompanho as nave
que se lançam das canções que ouço
as seis e treze da manhã
para os céus dos que vão para o trabalho
e para os que nunca nada fazem

você acordando, eu indo dormir,
pensando copiar nos papéis de meu rosto
o tudo e o nada que existe no rosto
e no cerebelo barba e cabelo
de Hermeto Pascoal

cabelo de gente, cabelo de milho,
coentro, alho e azeite de oliva argentino
também são partes colantes desse poema despreocupado

eu ouço os mestres da canção...
Arnaldo Antunes... Ednardo... João Donato...
sergio sampaio... evinha... erasmo carlos...
betânia... taiguara
e toda uma gama de sonâmbulos como eu

tico santa cruz e glad azevedo
aparecem (porque quero)
nas curvas das luzes,
nos junhos janeiros
do meu sono fugitivo

mas juro dormir com a receita
do psiquiatra sob o travesseiro,
com uma bola tarja preta relaxante
de neurónios atarefados

você quer ser poeta?
preste bastante atenção nos movimentos
que faço por conta de tal ação,
veja se vale

totalmente social,
totalmente anti social...
filho de tudo,
filho de nada,
filho de ave,
filho de puta

desejo minha irmã,
desejo tua irmã,
desejo você

nada e tudo quero com você, com ele, com ela...
nus pintados de azul
na festa da música de Nice...
de Canela...
( e lá caminha Amanda Ruppenthal,
a mais princesa das prendas)

(edu planchêz)

Papo Miauuuu









Escreverei uns versos que inventei numa noite fria.
Visões da alegria e da agonia
Partiram da sinfonia dos bichanos tarados, ensandecidos,

Já era quase dia,
Eles não queriam nada além dos seus instintos instigados

Na correria
De um lado para o outro, acabaram acordando o delegado
Que dormia
Entorpecido de algum remédio estragado
Essas porcarias
O delegado irritado puxou o ferro
E na pontaria
Acertou o pneu do seu próprio carro
Foi bruxaria
Tentou matar os gatos
Da portaria
E acabou indo trabalhar com TRÊS cápsulas a menos de seu armamento importado.

Quem diria?
No meio do caminho topou com dois meliantes
Selvageria
Não sabiam que estavam se metendo com um delegado

Quem ousaria?
Renderam o velho homem que assustado mal se mexia.
Tomaram-lhe sua carteira, os documentos e na covardia

O delegado era bem treinado
Já foi vigia
Num movimento rápido puxou o ferro e atiraria
Se não tivesse gasto sua munição com os gatos...


(Tico Santa Cruz)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

essa persona reinou sobre todas as forças nos laços dourados da minha poesia e ainda reina




Centralizo essa foto
porque me é de muito significado,
essa persona reinou sobre todas as forças
nos laços dourados da minha poesia
e ainda reina

Uma fotografia marcada
nas luzes pequenas desse pequeno poeta
que pouco ou nada sabe

(edu planchêz
)

sábado, 5 de junho de 2010

Subliminar















Onde enterrar esse medo moto-contínuo repleto de magnitude, de arraias, aranhas, e uma solicitude que me envolve como um amante, cheio de braços, mãos e fantasias. Fantasmas que dominam em uma auto-imolação desencadeando cismas e conflitos. E começo a pensar que fiz tudo errado, que excedi no tempo, cheia de quebrantos e feitiços. Corri demais, irremediavelmente obscena nos versos e sentimentos, não me poupei! Sempre no último movimento, como se fosse morrer. Atmosférica, cheia de cetins e entusiasmo. O fogo de Deus! Movimento ininterrupto de sangria. A alma a cair-me aos pés, cheia de ranhuras, a denunciar vida entre conflitos, curvas e todas as paixões a arderem. E agora tenho medo, porque não cessam, porque não param. Vivo num mundo à parte, muito longe do lugar-comum, transpirada de sol, apaixonada e cheia de versos subliminares, de tules e asas

(Mara Araujo)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"Na Índia houve certa vez um grande soberano"





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"Na Índia houve certa vez um grande soberano, o rei do país chamado Parthia. Esse rei gostava exageradamente de cavalos e de criação de cavalos. Com o tempo, tornou-se tão perito em criá-los que conseguia não somente converter um cavalo imprestável num animal de qualidade notável, mas também podia transformar um boi num cavalo. No final, até mesmo transmutava pessoas em cavalos e cavalgava-os. Os cidadãos de seu próprio Estado ficaram tão aflitos com essa última façanha dele que ele se restringiu a transformar homens de outras terras em cavalos. Consequentemente, quando um mercador viajante veio a seu reino de um outro país, ele ofereceu-lhe uma poção para beber, tornou-o um cavalo e amarrou-os nos estábulos reais.

Mesmo sob circunstâncis ordinárias, o mercador ansiava pela sua pátria e, em particular, pensava com saudade em sua mulher e em seu filho. Portanto, ele achou a sua sina muito difícil de suportar. Porém, como o rei não permitia que voltasse para casa, ele não poderia fazê-lo. Na verdade, mesmo que tivesse sido possível, o que poderia fazer lá em sua atual forma ? Assim, tudo o que lhe restava era lamentar o seu destino.

Esse homem tinha um filho que, quando o seu pai deixou de regressar no tempo esperado, começou a imaginar se seu pai havia sido morto, ou talvez tivesse adoecido. Sentindo que, como filho, deveria descobrir o que havia acontecido com o seu pai, partiu para uma viagem. Sua mãe lamentou-se, queixando-se de que seu marido já tinha ido para uma outra terra e deixado de voltar, e que se ela agora fosse abandonada pelo seu único filho também, não saberia como prosseguir. Mas o filho estava tão profundamente preocupado com o pai que, mesmo assim, pôs-se a caminho de Parthia em busca dele.

(Ao chegar lá) alojou-se por uma noite numa pequena hospedaria. O dono da casa disse: "Que tristeza! Você é ainda tão jovem, e posso ver pelo seu semblante e postura que é uma pessoa distinta. Tive um filho um dia, mas ele partiu para um outro país e talvez tenha morrido lá. Pelo menos não sei o que sucedeu com ele. Quando penso no destino de meu próprio filho, mal posso olhar para você. Digo isso porque aqui neste país temos uma causa para grande pesar. O rei deste país é tão exageradamente afeito a cavalos que se aventura a fazer uso de uma estranha espécie de planta. Se ele dá uma das estreitas folhas dessa planta para uma pessoa comer, ela transforma-se num cavalo. Se ele oferece uma das folhas largas da planta a um cavalo, este torna-se uma pessoa. Não faz muito tempo, um mercador veio aqui de um outro país. O rei deu-lhe algumas folhas dessa planta, transformou-o num cavalo, e está mantendo-o secretamente confinado no primeiro de seus estábulos reais.

Quando o filho escutou isto, pensou que seu pai provavelmente deveria ter sido transformado num cavalo, e perguntou: "Qual é a cor do pelo do cavalo?"

O dono da casa respondeu: "O cavalo é castanho com manchas brancas nas costas".

Após ter-se informado de todos esses fatos, encontrou uma maneira de aproximar-se do palácio real, onde conseguiu roubar algumas folhas largas da estranha planta. Quando deu-as ao seu pai, que havia sido transformado num cavalo, ele voltou à sua forma original.

O rei do país, maravilhado com o que ocorrera, entregou o pai ao filho, pois este havia mostrado ser um grande modelo de preocupação filial, e depois disso nunca mais transformou homens em cavalos.

Quem senão um filho teria percorrido tal distância à procura de seu pai ? O venerável Maudgalyayana salvou sua mãe dos sofrimentos do mundo dos espíritos famintos, e Jozo e Joguen persuadiram o pai a abandonar suas idéias heréticas. É por isso que se diz que um bom filho é o tesouro dos pais. Agora, o falecido Abutsubo foi um habitante de uma ilha erma e distante no mar do norte do Japão. No entanto, estava receoso a respeito de sua existência futura, e assim assumiu votos religiosos e aspirou à felicidade na próxima vida. Quando encontrou a mim, Nitiren, um exilado na ilha, ele abraçou o Sutra de Lótus e, na primavera do ano passado, tornou-se um Buda. Quando a raposa do Monte Shita encontrou a Lei do Buda, ficou insatisfeito com a vida, almejou a morte, e renasceu como o deus Taishaku. Da mesma maneira, Abutsu Shonin ficou cansado de sua existência nesse mundo impuro e, portanto, tornou-se um Buda.

Seu filho, Tokuro Moritsuna, seguiu seus passos, vindo a ser um sincero devoto do Sutra de Lótus. No ano passado, no segundo dia do sétimo mês, ele apareceu aqui em Minobu, em Hakuri, na província de Kai, tendo viajado mil ri por montanhas e mares com cinzas de seu pai penduradas em seu pescoço, e depositou-as no lugar dedicado à prática do Sutra de Lótus. E, este ano, no primeiro dia do sétimo mês, ele veio novamente ao Monte Minobu para visitar o túmulo de seu pai. Com certeza, não existe tesouro maior do que um filho, nenhum tesouro maior do que um filho !

Nam-myoho-rengue-kyo, nam-myoho-rengue-kyo.

Nitiren,

Em 2 de julho."

amorzinho, estou reflexivo




edu planchêz diz:

amorzinho, estou reflexivo,
um pouco triste, o novo muita vezes me espanta...
eu à amo
Vanessa diz:
é.. sim..
eu também o amo
edu planchêz diz:
complexo viver
entender as coisas
ser sensível nos pessoas estranhas
faz
Vanessa diz:
eu o amo muito, edu;... e o rio é nosso
o rio é dos loucos poetas..
edu planchêz diz:
gostaria de ser mais prático
Vanessa diz:
ás pessoas comuns o rio não pertence..
ele é o berço dos poetas.... nossa mãe.
edu planchêz diz:
não consigo gostar do que as pessoas comuns gostam
Copa do mundo, novela, ganhar na loteria
Vanessa diz:
eu também NÃO!
edu planchêz diz:
o Rio está aí com suas praias, com seus monumentos...
eu e Fernando Pessoa olhamos para o nd e vemos o nd
Vanessa diz:
o rio está doente..... impregnado de capitalismo..
e ele devolve a doença a violência.
edu planchêz diz:
de pessoas, de poetas ( pseudos) interessados apenas no lucro
na fama perene
Acho q quero colo
Vanessa diz:
pseudos poetas.. nem me fale neles, meu deus!
edu planchêz diz:
essa São José tb
cuidado c alguns Moraes da vida
o lance deles é cargos politicos
colocações empregatícias
Vanessa diz:
é... sei disso..
edu planchêz diz:
saí daí por n suportar o cordão puxa-sacos
Cazuza fala nisso
essa gente que vive para paparicar
laMber culhão de demagogo

Vanessinha amada
Vanessa diz:
é....
é bem por aí
edu planchêz diz:
queria estar perto de você, só p olhar p vc
ver as sombras de tuas mãos e o sol das noites que só vc vê
sem carencias, apenas desfrutar da presença da irmã querida
Obrigado por me ouvir
Vanessa diz:
disponha meu bem.. sou tua irmã.. para sempre
edu planchêz diz:
queria que um dia essa irmã domisse no meu ombro, ouvindo ela cantar "valsinha" de Vinicius de Moraes
ou "João e Maria" de Chico Buarque e Sivuca
Vanessa diz:
ahh.. meu querido..
um dia vou ao rio....
agora preciso ir..
fique bem.. sim?
fique com meus beijos..
edu planchêz diz:
estou
Vanessa diz:
com meu hálito..
edu planchêz diz:
????
Vanessa diz:

boa noite.
edu planchêz diz:
fica bem
Vanessa diz:
mande beijos ao mar carioca...
diga que sonho com ele todas as noites, por favor..
e que a minha alma precisa se banhar nele....
edu planchêz diz:
vejo o mar apenas das janelas dos ônibus
Vanessa diz:
deveria ir devorá-lo..
beijos
fui
edu planchêz diz:
estou em reforma

MÁQUINA...




montando peça por peça essa máquina,
essa cabeça, esse peito semi desmontado,
observo as casas e suas luzes,
os anos acumulados nesse corpo,
os que se foram, os que vivos ainda estão,
os que acabaram de coroar,
saírem por esses novos dias dos ventres
de suas mães

o inverno na porta,
as linhas das coisas fazendo
o que tem que ser feito,
em minha vida,
na vida dos outros viventes

esse tudo novo que me incomoda,
esse não sei que badala
diante dos meus olhos
se parece com um disco,
com um calendário Maia,
com uma roda d'água,
com uma roldana movida por uma corda
que possui um balde em sua ponta:
no fundo desse poço além de lama
há água, enguias, preciosas pedras,
peixes de cores indescritíveis

(edu planchêz)

terça-feira, 1 de junho de 2010

TRATADO SOBRE FRITURAS




Um pessoa que trabalhava comigo disse:
"você inventou tal história para me fritar"
Eu não sou óleo quente,
apenas não suporto ser manipulado...
nem ter que ficar batendo continência,
ser certinho, educado, não falar palavrão

Educação? Eu possuo educação sim,
mas não a educação que se submete,
que se cala diante da injustiça,
que abaixa a cabeça

"Você quer me fritar"...
e de preferência no azeite português extra virgem
ou no dênde dos Orixás da mata fechada

As frituras são bem criativas...
As tilápias africanas
conseguem nadarem nas águas ultra quentes
que circundam os vulcões
sem serem fritadas

Comecemos aqui um tratado sobre frituras:
frito os ossos da mente no óleo
soberano dos poemas de Fernando Pessoa
e juro que me sinto intenso e farto
por todas as minhas carnes e palavras

As frituras que o universo dos meteorítos
nos servem, longe estão do colesterol malígno,
das congestões causadas pelas palavras
tortas dos que não sabem o que são palavras

A boa palavra nos frita mais que o sol dos desertos sauditas,
mais que a pira dos navios que seguem para Gibraltar,
mais que as gaivotas que migram
entre as estações infernais das boas leituras
para a Ilha de Páscoa

(edu planchêz)

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Devolvamos o rio




Devolvamos o rio.
Devolvamos tudo aquilo que lhe pertence.
O silêncio das manhãs entreabertas.
O sol atravessando o orvalho com
o formato de um ombro inteiro.
As bandeirolas de papel resplandecente.
Os barcos e seus porões de pequenas estátuas.
O gozo do redemoinho deslumbrado.
As árvores derramando flores
sobre as corredeiras.
O cântico dos pássaros que se banham nas margens
onde dormem os cavalos levemente embriagados.
Os segredos dos namorados
e a inocência dos corações emigrantes.
Devolvamos as pequenas ondas.
Os pequenos pescadores
com seus sonhos transparentes
e os peixes.
Devolvamos a morte estremecente
e além da morte
o cemitério viajante e afundado.
Devolvamos tudo, inclusive o leito experimentado
que acolhe a vastidão de nomes inteiros
e a vida com suas mamas profundamente desfiguradas.
Devolvamos o rio.


Celso de Alencar
Poemas Perversos



midi: Villa Lobos_Melodia Sentimental_Zizi Possi
formatação e arte final: Mary Castilho

belíssimas labaredas




seis e dezoito de segunda feira,
o coruja aqui se prepara para apagar,
entregar-se as jornadas do subconscientes

mais uma semana que começa,
mais uma ruga que salta,
mais uma pau que sobe e desce...
outra bola de sorvete de creme
à entrar nas taças de meus sonhos de sorvete

meu filho dorme, a manhã trouxe o frio,
e Flávio Venturine cantado "princesa"...
e Taiguara, "moça do sobrado"

Cresci e não cresci,
o tempo correu e não correu
e eu continuei escrevendo,
enegrecendo as telas e as páginas
com letras tremula e resolutas

assim é a jornada do escritor,
desses que não faz história
porque a própria história é ele

optei pela poesia, por preguiça,
por não pretender me impor a técnicas
e sucessivas pesquisas gramaticáis

a poesia que concebo
não se preocupa com buscas,
profundidades, formatação de mensages
e conteúdos

escrevo sem compromisso,
sou apenas aquele ancião
que na última manhã de Pompéia
se maravilhava com a fúria do Vesúvio
enquanto as pessoas
tentam salvar suas jóias e
escapar das belíssimas labaredas
adentrando-se no impossível mar

(edu planchêz)

domingo, 30 de maio de 2010

E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO


(foto : Jorge Mautner)

E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direcção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio

(Dylan Thomas)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Ela ( sou eu)



Ela fechou as janelas na minha cara...
por conta de meus inventos,
por conta do que digo em meus pobres poemas...
abri o céu (doravante minha janela)
Corri por terrenos que nunca foram meus,
por luas cor de mercúrio

Hoje minhas pernas sentem o esforço
que foi subir naquelas pedras

Volto para minha cabana,
para minha esteira,
para os chinelos que foram de meu pai

Ela ( sou eu),
não preciso virar esquinas,
nem de forquilhas dalinianas
para me manterem de pé

Considero tudo e todos,
mas a resposta mesmo,
guardo comigo,
no bolso do fígado,
na camuflagem do meu eu sapo

(edu planchêz)